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21 de junho de 2011

Quem liberta quem?

Por Alexandre Cumino

Dia 13 de Maio é dia da Libertação, dia da Lei Áurea em que a Princesa Isabel assinou o documento que deu a liberdade aos negros escravos. O que é cantado em verso e prosa por todo o Brasil e comemorado na Umbanda como o dia dos "pretos velhos" e "pretas velhas". Uma vitória para a evolução da condição social e o reconhecimento legal de que uns não podem nem devem escravizar os outros e que busca a máxima de que somos todos iguais. O Brasil foi um dos últimos países a tomar esta atitude, durante muito tempo ainda houve escravidão ilegal, ainda hoje descobre-se em um ou outro local remoto pessoas vivendo em tal regime. Na história da humanidade muitos povos foram marcados pela condição de cativeiro, haja visto o que nos conta a tradição judaico cristã a cerca dos judeus que foram escravos dos Egípcios, mais tarde cativos de Babilônicos e por fim libertos pelos Persas. Em todos as culturas encontramos esta cicatriz da diferença, mas ainda hoje vivem sentimentos de diferença e discriminação com relação ao diferente. Não somos mais escravos de trabalho forçado em uma condição física, mas vivemos muitas outras condições de "escravidão" simbólica ou emocional. Muitos anos atrás ouvi um preto velho (Pai Joaquim) dizer que o dia da libertação foi quando o branco libertou a si mesmo do fardo e "karma" pesado em fazer de seu igual um escravo. Afinal branco hoje, negro ontem, amarelo ou vermelho amanhã, somos espíritos imortais e reencarnamos nas diversas raças e culturas. Estes dias ouvi Pai Benedito repetir estas palavras de que o branco libertou a si no momento em que libertava o outro, seu irmão, culturalmente tido como inferior. Durante muito tempo as ciências dos brancos, em suas faculdades e universidades, ensinou que o negro era inferior em todos os sentidos, tido como um "animal", apenas, comprado e vendido. E não seria uma lei que mudaria os valores e paradigmas de uma sociedade espiritualmente atrasada. A própria Igreja Católica apoiou e patrocinou a escravidão de negros em detrimento de sua predileção por índios apesar de te-los matado aos milhões também. Purismo filosófico dos padres de então que criaram todo um discurso para libertar uns e prender outros. A alegação para fazer cativos os africanos era de que a África era o "Inferno" e que uma vez cativos nas mãos de "cristãos" os escravos seriam batizados e teriam finalmente sua alma livre apesar do corpo não gozar da mesma condição de suas almas. Ironia das inversões de valores, apesar da construção ideologia ser apologética ao crime de prender seu igual é certo que muitos que encarnaram no seio da Mãe África tinham a sina de ser escravizados (por questões de karma) o que não justifica o ato em si mas nos dá um sentido de ser no contexto. E outros tinham a missão de estar entre estes para lhes servir de guia e luz espiritual, muitos abnegados pediram para encarnar em meio a grande grupos de espíritos que iriam viver a experiência do cativeiro. Sabemos, hoje, que boa parte dos escravos eram "prisioneiros" de guerras e conflitos africanos, que se no principio eram condição natural de alguns povos, mais tarde foi patrocinada pelos interesseiros comerciantes de gente, fornecedores de armas e ideologias para abastecer o mercado "tumbeiro" entre dois continentes. A Lei maior a tudo assiste, ninguém nasce nesta ou naquela condição física e social á toa. Uns nascem com limitações motoras, de visão, de audição, de comunicação e até mental outros nascem com limitações sociais, seja por sua cultura ou classe social a que a maioria de nós está sujeito e que em alguns casos nos marca profundamente, nos fazendo sentir pertencentes a verdadeiras castas de acordo com nosso "poder" financeiro ou formação acadêmica, o que pode influenciar nossa saúde mental e distribuição do que poderíamos chamar de tempo livre. Muitos de nós se sente escravo do relógio, do trabalho, do patrão, de um emprego, das contas para pagar e compromissos assumidos. Somos escravos de nossos sentimentos de nossas paixões, somos escravos de nossos apegos, de nossos bens materiais e afetivos. Somos escravos do cigarro, da bebida, da comida, do sexo e de comportamentos que gostaríamos de mudar e não conseguimos. Somos escravos e vivemos esta escravidão como autômatos. Somos escravos voluntários até certo ponto pois há de se reunir muita energia para uma mudança de vida e hábitos, no entanto toda esta escravidão a quem nos sujeitamos mais cedo ou mais tarde nos trará complicações, de saúde, emocionais e sociais. Tudo funciona como uma máquina, criamos uma sociedade viciada e regulada por mecanismos que nos oprimem e classifica quem está por cima e quem está por baixo, na qual poucos conseguem sair de baixo para cima. Pior que estar em uma condição difícil é nos sentirmos inferiores ou inferiorizados e é ai neste ponto nevrálgico que entra nossos amados Pretos Velhos e Pretas Velhas, eles nos ensinam como viver além da condição de cativeiro a qual nos impomos.
Pois muito pior que o cativeiro físico é o cativeiro emocional, psicológico e cultural ao qual mais ou menos todos estamos sujeitos. Quem, hoje, pensar em viver sem uma televisão ou outros meios de comunicação está fadado a se tornar um alienado para este mundo globalizado, capitalista e consumista. Estes mesmos meios de comunicação nos dita regras desde muito cedo, desde a infância de como devemos falar, vestir, comportar e o que devemos considerar como bom ou belo, ruim ou feio... vamos crescendo condicionados à escravidão de valores e as grande máquinas de fazer lucro e manter a roda da sociedade girando...
É o preto velho quem nos ensina a se libertar do cativeiro... peço a eles que nos ajudem e auxiliem a vencer o que nos oprime, o que nos marcou, nossos traumas, medos, fobias... que nos ajudem a desamarrar o que nos prende e quebrar as correntes de velhos paradigmas que como grilhões não permitem vôos para além deste feudo cultural.
Que neste dia nosso amados pretos e pretas velhas nos ensinem a vencer o preconceito e a discriminação com valores espirituais, cultura e informação. Que sua mensagem que ecoa desde as senzalas nos lembre que todos nós somos muito mais que tudo isso, somos muito mais que nomes e títulos, sobre nomes e tradições, somos mais do que qualquer condição temporal, racial, cultural e social...
Somos espíritos imortais e nascemos para desenvolver a nossas liberdade, o que chamam livre arbítrio, que com tantas circunstancias limitantes nos dá muito poucas opções, em alguns casos, mas que ninguém se engane, a verdadeira liberdade só existe quando queremos nos libertar do que nos oprime e não há opressão maior que esta a qual nós mesmos exercemos sobre nós... libertar-se é se tornar livre no pensar e no agir... é ser e viver sua natureza superior é ser hoje melhor do que ontem e amanhã melhor do que hoje...
"Adorei As Almas"
Viva Yayá.. Viva Yoyô... Cativeiro Acabou...

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